Lisboa Dance Festival: o outro lado da cidade também dança
Ao terceiro ano, o Lisboa Dance Festival pegou nas malas e foi pôr o outro lado da cidade a dançar. Manteve a música como atracção principal, repetiu a fórmula das Talks e trocou o Market pela Arte.
HUB CRIATIVO DO BEATO
A mudança do Lx Factory para o Beato era, logo à partida, um dos maiores factores de curiosidade para esta edição.
A zona entre o Braço de Prata e Xabregas, adivinha-se, será uma zona trendy nos próximos anos e o Hub Criativo do Beato, pela mão da Startup Portugal, pretende ser um espaço para empresas e projectos inovadores.
Apesar do esforço para revitalizar a área, com o surgimento de projectos artisticos (ex: galeria da Underdogs ou a exposição de Bordalo II), ainda falta vida ao meio envolvente e isso foi notório a quem chegou mais cedo à zona pouco movimentada, quando comparado com um Lx Factory cheio de vida própria.
Lá dentro, há um espaço com bastante potencial para este tipo de eventos (e não só) mas a precisar de algumas obras e melhoramentos.
As salas onde a antiga manutenção militar fabricava bolos ou pão, transformaram-se em pistas de dança onde as velhas recordações, ainda presentes, misturaram-se com luzes e bolas de espelhos.
Este Hub combina bem com a música Electrónica e o Lisboa Dance Festival poderá dar um empurrão na promoção da zona.
MÚSICA
Com um cartaz menos variado do que no ano passado, fui cumprido aquilo com que se tinham comprometido: juntar vários nomes da Electrónica, capazes de por o público a dançar durante uma noite inteira, ignorando a tempestade que se fazia sentir cá fora.
No entanto, ficou a ideia de que essa variedade podia ter estado mais presente, tendo em conta a resposta positiva do público a actuações como as de Dj Glue e NAO. Se o primeiro mostrou que o Hip Hop - que quase desapareceu do cartaz - rima com este Festival, a cantora britânica teve uma sala muito bem composta e disposta a substituir, por alguns momentos, as batidas por uma voz doce. Uma actuação bem mais intimista do que aquela que tinha acontecido no Coliseu dos Recreios em 2016, para o Vodafone Mexefest.
Para além de alguns nomes que eram atracções principais, como Nosaj Thing ou Joe Goddard (actuaram ao mesmo tempo, em salas distintas), um destaque muito positivo para a presença de vários artistas nacionais no cartaz, que continuam a reunir a preferência de muitos dos presentes.
TALKS
Durante algumas horas, a música deixou de tocar para ser discutida. As Talks continuam a ser um ponto forte deste Lisboa Dance Festival e é uma pena que não possam chegar a mais gente (através de um Live Stream, por exemplo) nem se repitam com maior frequência, mesmo que noutros âmbitos que não o do Festival.
A Masterclass de Charlie Beats abriu as hostes e deu-nos a perspectiva do trabalho do produtor, através da explicação de algumas dicas e técnicas, usando como exemplo práctico o mais recente single de Gson, "Voar".
Para as sessões de discussão, estiveram reservados três temas: "Marcas na Música", em que foi abordada a importância que as marcas têm nos Festivais e nas carreiras dos artistas, trazendo à baila o óptimo trabalho que a Red Bull tem feito nesse sentido; "Lisboa Dança com Turistas" que, através da opinião de Sérgio Hydalgo (ZdB) e Xinobi, mostrou que os espaços não têm tido a necessidade de adaptar a programação, nem os artistas de fazer alinhamentos diferentes para lidar com o aumento do turismo; fechou com "Lisbon is the New What?", que apesar de ter focado muitos pontos em comum com o tema anterior, permitiu ter outras perspectivas, como a do jornalista Ryan Miller e do Dj Tyson Ballard, que se mudaram recentemente para Portugal.
A baixa temperatura sentida na sala e a fraca qualidade do som, não evitou que o público enchesse os lugares disponíveis nem pôs em causa a qualidade das intervenções.
ARTE
Pela primeira vez, a Arte fez parte do Lisboa Dance Festival. Chegou pela mão do curador John Romão, com o selo do BoCA (Bienal of Contemporary Arts) e instalou-se na bonita Central Eléctrica do Hub.
"Visceral Monuments" foi o nome da exposição que juntou os trabalhos de 12 artistas nacionais e internacionais, que abordaram a dança como forma de expressão, através da diversidade, da liberdade de escolha e da criatividade. O resultado foi uma inspiradora combinação de obras, na qual se destacava a enorme projecção na parede, pelos franceses Boris Charmatz e César Vayssié, de uma performance coreográfica.
Música, Talks e Arte. Esta parece ser a fórmula a manter na próxima edição. Fica apenas o desejo de ver o Hip Hop regressar ao cartaz.