Vodafone Mexefest 2017: passe de 2 dias para a verdadeira "Lisboa Viva"
"Lisboa é sempre assim?", perguntava um turista francês, sentado numa esplanada entre a Casa do Alentejo e o Palácio da Independência.
Com lotação esgotada, o Vodafone Mexefest arrastou uma multidão para as centenas de metros que separam o Cinema São Jorge do Palácio da Independência e durante duas noites, Lisboa foi ainda mais viva do que o habitual.
Como sempre, o roteiro estava preparado e, também como sempre, não foi cumprido na íntegra. Há quem diga que o hábito faz o monge, mas neste caso, burro velho não aprende línguas.
Não foram muitos os concertos do início ao fim, mas foram alguns aqueles que chamaram a atenção. E se a primeira noite foi do Hip Hop, com as actuações de Oddisee, Valete e Orelha Negra a cumprirem as expectativas, a segunda foi das mulheres, com Mahalia e Sevdaliza a superarem-nas.
Num Festival como este, com tantos concertos em simultâneo, é impossível eleger "os melhores". Cada um tem os seus preferidos, mediante aquilo que teve oportunidade ver. Estes são destaques do nosso roteiro:
1. IAMDDB
Encarregue de abrir as hostes num dos epicentros do Hip Hop nesta edição do Festival, IAMDDB apresentou-se em português e criou uma empatia imediata com o público que encheu a Sala.
De Manchester, a luso-descendente trouxe as sonoridades urbanas dos seus EP's até Lisboa e cantou temas mais ou menos conhecidos, como "Childsplay", "Trophy" ou "Shade" que, apesar de serem interpretados na perfeição, não tiveram um sistema de som totalmente à altura, o que se notou, principalmente, em músicas onde as batidas Trap estavam mais presentes.
O esforço para interagir com a plateia, acabou por criar demasiadas quebras ao longo do concerto, com muitas conversas e muitas brincadeiras - inclusive, um momento de "discos pedidos".
Foi bom, mas ficou a sensação de que podia ter sido melhor.
2. Oddisee
Outro dos nomes mais esperados por quem "acampou" no Capitólio durante a primeira noite, Oddisee também teve direito a casa cheia e uma grande dose de entusiasmo.
A má gestão do tempo não permitiu ver muito mais do que o último quarto de hora de concerto, mas deixou perceber que o rapper de Washington DC foi uma aposta ganha, até pelas críticas que se foram ouvindo no final. Energético, maduro, diferente do habitual.
A actuação fechou com aquele que é, muito provavelmente o tema mais conhecido do público português. "Like Really" fez mexer a plateia e deixou o bichinho para uma futura visita a Portugal.
3. Valete
Não foi um concerto cheio de surpresas, é certo, mas Valete joga noutro campeonato, com uma qualidade e presença ao vivo acima da média.
Com vídeos em permanência como pano de fundo e sempre relacionados com o que acontecia na frontline, Valete abriu o concerto com um dos temas mais recentes, "Poder".
Trouxe de volta o "Canal 115" com a ajuda de Bónus, voltou a apelar ao "Fim da Ditadura", que mantém a mensagem actual apesar das personagens serem outras e teve como pontos altos o "RAP Consciente" e a sempre esperada "Roleta Russa".
O momento foi aproveitado para um tributo a todos aqueles que, ao longo dos anos, têm contribuído para a evolução do Hip Hop em Portugal. Às imagens de Dealema, Mind da Gap, Chullage, Xeg, Capicua, Dillaz, Sam The Kid ou Slow J, o público respondeu com palmas e sinais de aprovação.
Valete está mais maduro e, como o próprio rap, consciente.
4. Orelha Negra
A tela usada no concerto de apresentação no CCB e na edição de 2016 do Super Bock Super Rock era a mesma, mas só isso. Com "Throwback", iniciou-se uma autêntica viagem pelo espaço. Uma obra de Rui Vieira que recriou toda a componente visual à volta do espectáculo, à imagem da capa do novo álbum.
Ao fim de 20 minutos de concerto, o véu voltou a levantar-se e o protagonismo foi todo para os elementos que compõem a banda: Fred, João Gomes, Francisco Rebelo, Sam The Kid e DJ Cruzfader que, perante um Coliseu completamente lotado, foram intercalando os temas mais recentes com outros, como M.I.R.I.A.M. ou um medley com clássicos do Hip Hop.
Orelha Negra é isto. Não sabem dar um concerto mau.
5. Mahalia
A acolhedora Sala Montepio do Cinema São Jorge encheu para ouvir umas das vozes mais bonitas desta edição.
Uma surpresa para a maioria, apesar de contar com um considerável número de fãs que sabiam as letras de trás para a frente, a cantora britânica variou entre os registos mais electrónicos, acústicos e até mesmo acapella, em completa sintonia com um público que intensificou o entusiasmo presente em practicamente todo o concerto, ao som de "Sober" e "Hold On".
Foram vários os momentos de aplausos continuos, de entusiasmo, em que a cantora ficou visivelmente emocionada com a recepção calorosa.
Se houvesse um prémio de "Surpresa do Festival", muito provavelmente, ia para Mahalia.
6. Sevdaliza
Depois do concerto de Mahalia, já havia fila para Sevdaliza, quando ainda faltavam 45 minutos (!) para começar, obrigando as portas da Sala a abrir mais cedo.
Mais do que um concerto, a actuação de Sevdaliza é uma autêntica performance. As luzes a marcar o ritmo, as roupas excêntricas, os momentos coreográficos com um bailarino... Tudo bem ensaiado e alinhado com a poderosa voz da cantora que, por várias vezes, fez as primeiras filas levantarem-se, apesar dos pedidos da equipa do São Jorge para que se sentassem (?).
A Sala Manoel de Oliveira foi pequena para a dimensão do espectáculo e do público.
7. Moullinex
Se alguém estava à espera de ver o Moullinex por trás de uma mesa de mistura e dois ananases ao lado, enganou-se redondamente quando entrou no Coliseu.
Luís Clara Gomes apresentou-se com banda e uma energia contagiante, que fez o público esquecer-se do cansaço, depois de tantos quilómetros feitos nas duas últimas noites. E para que isso acontecesse, contou com a preciosa ajuda de Ghetthoven, que foi um verdadeiro mestre de cerimónias, sempre que largou a parede chroma para entrar em palco.
Com as atenções viradas para o novo álbum, Hypersex, as mais novas, como "Love Love Love" ou "Carnival" foram intercalando com êxitos anteriores, como "Take a Chance".
A fazer parte da festa, além dos Best Youth, estiveram os companheiros de sempre, da "crew Discotexas", Xinobi e Da Chick.
Dificilmente havia melhor maneira de fechar esta edição.
Fotografias: Agenda Lx, Vodafone Mexefest e Rita Carmo (Blitz)