As comparações entre as capitais alemã e portuguesa ao longo dos últimos anos sucedem-se, sejam como referência ao crescimento da Street Art, Lifestyle ou do negócio das Start Up. Por isso, nesta altura e finalizada a 2ª edição do festival, não será descabida mais uma comparação entre as duas cidades.
Berlim, tantas vezes apelidada de Capital da Música Electrónica, vê a "irmã" Lisboa dar os primeiros passos.
Com as devidas semelhanças estéticas, num Lx Factory que traz à lembrança o RAW, situado numa das margens do Rio Spree, nasceu há um ano um Lisboa Dance Festival que, nesta segunda edição, superou-se a si mesmo em número de visitantes e passou o teste da afirmação.
Muito público português, mas também muitos estrangeiros que aproveitaram a cidade de Lisboa ou que vieram propositadamente para o efeito, dançaram durante duas noites ao som das mais variadas vertentes da música Electrónica.
E porque a viagem pela música também se faz ao som das tendências, este ano, o Hip Hop trouxe sonoridades acrescidas ao cartaz e ajudou a provar, mais uma vez, que existe público e existe vontade. Faltava arriscar.
O Dread que abriu a Fábrica XL
Foi precisamente com Hip Hop que a Fábrica XL, espaço maior deste festival, abriu esta edição.
Penalizado pela hora precoce, Holly Hood foi vendo a sala ganhar público à medida que passava em revista a primeira parte da trilogia que compõe o álbum lançado há menos de um ano. Foi com "O Dread que matou o Golias" que começou e terminou um espectáculo em que mostrou o porquê de ser uma das maiores promessas do Hip Hop português, onde não faltaram os êxitos "Qualquer Boda", "Fácil" e "Cobras & Ratazanas" que, como era de esperar, foram os mais bem recebidos pela plateia.
Com ele, além dos permanentes Stone Jones e Here's Johnny, estiveram No Money e 9 Miller, que aproveitaram para apresentar os mais recentes singles em nome próprio, "Veneno" e "Limonada", respectivamente.
Ouvir Devagar
Considerada uma das livrarias mais bonitas do Mundo, durante dois dias, na Ler Devagar, a leitura deu lugar à música pela mão do Clube Antena 3.
No cimo das escadas, ao lado das prateleiras repletas de livros, uma pequena sala preparada para receber exclusivamente nomes nacionais. Harold foi um dos primeiros.
Entre faixas do primeiro trabalho a solo e outras dos Grognation, o "Indiana Jones" não fez esta grande cruzada sozinho. Além de Sensi, que o acompanhou durante todo o concerto, o restante conjunto de Mem Martins (com concerto agendado para poucas horas depois), bem como Bispo e Fumaxa, ajudaram o rapper a fazer a festa em dia de aniversário, juntamente com o público que compunha a plateia e que foi animando ao som de "Vai e Vem", "Safari" ou "Voodoo".
No final, artistas e plateia, "tudo ao Molio" e em perfeita sintonia fecharam com uma foto de grupo, antes de dar lugar a DJ Glue, que teletransportou os temas de Holly Hood directamente da Fábrica XL para o início de um set que teve a ingrata missão de concorrer com TOKiMONSTA e Sam The Kid & DJ BIG.
A segunda noite teve o Conjunto Corona em grande destaque. Em "horário dos Malucos do Riso", como os próprios referiram, o humor juntou-se à música no registo habitual do grupo e não faltou nada! As meias brancas de Kron Silva e Logos, o Homem do Robe, dB com o estilo "Irving Rosenfeld" (do filme American Hustle), oferta de discos e t-shirts... Nem mesmo o Hidromel.
Longe de se resumir à forma como se apresentam, um concerto dos Corona é uma experiência. A energia, os óptimos beats de dB, as rimas e a sintonia com o público, têm tanto de intenso como de contagiante.
Apesar do maior destaque ter sido dado ao mais recente trabalho, "Cimo de Vila Velvet Cantina", os anteriores "Lo-Fi Hipster Sheat" e "Lo-Fi Hipster Trip" estão longe de estarem esquecidos.
Com eles, a casa vai a baixo e não é só no nome.
As curadorias de Branko e Moullinex
O destaque dado às editoras independentes na primeira edição, voltou a reflectir-se neste Lisboa Dance Festival. E, apesar de não se ter resumido à Carlsberg Room @ ZOOT, aqui foi o epicentro da música feita pela Discotexas e pela Enchufada, através das curadorias de Moullinex e Branko.
A sexta-feira foi de Moullinex que, além de um tributo aos Daft Punk, trouxe como convidados Magazino, Mr. Mitsuhirato ou Da Chick.
No sábado, a multiculturalidade da Damaia foi trazida às colunas por Kking Kong e teve continuidade no espectáculo do anfitrião Branko que, não só foi capaz de encher totalmente a sala, como de criar uma fila até à rua, para dançar ao som de um Atlas que continua a contagiar.
O hostel que não Dorm
A pequena sala do hostel The Dorm pareceu ser a ideal para dar as boas-vindas a quem chegava ao recinto, com um B2B que punha lado a lado Davide Pinheiro e Vítor Belanciano. Mas, com o avançar da hora e a chegada de mais gente ao Lx Factory, começou a ser pequena demais.
Com tons de roxo a condizer através da iluminação do espaço, a Monster Jinx esteve representada por Darksunn e Nitronious, que foram ganhando público à medida que se aproximava a hora do B2B que "opunha" Sam The Kid a DJ BIG. E, da mesma forma que a bilheteira teve um "boom" de visitantes, pelas apertadas escadas de ferro do hostel, com vista privilegiada para os pormenores da intervenção de Bordallo II, formou-se uma fila extensa para dançar ao som de Bispo ou vibrar com um "Não percebes" do próprio Sam The Kid.
No sábado o filme repetiu-se e o público foi aparecendo à medida que o tempo avançava. Alguns de passagem, outros com clara intenção de ouvir as misturas que saiam da mesa.
Primeiro, Stereossauro e DJ Kwan com o Hip Hop, mais uma vez, como género predominante. Mais tarde, com Señor Pelota e Dupplo a fazerem a passagem, sem pausas, para DJ Riot e Nuno Forte fecharem a noite.
Lá de Fora
A Fábrica XL foi reservada para grande parte dos cabeças de cartaz, todos eles internacionais, à excepção de Holly Hood.
Foi a canadiana Jessy Lanza quem deu o mote para a introdução da Electrónica no festival. TOKiMONSTA deu continuidade. A DJ e produtora de ascendência asiática, com um permanente sorriso na cara, trouxe remisturas inesperadas e misturas de géneros, que andaram pelo Hip Hop, Trap, Pop, Drum'n'Bass ou Dubstep.
Às 0H, ainda havia público a chegar ao Lisboa Dance Festival. E foi por volta desta hora que Lisboa esteve mais perto de se encontrar com Berlim, com os espectáculos de Dekmantel Soundsytem e principalmente do alemão Marcel Dettman.
Corona e Branko não permitiram chegar a tempo de assistir ao elogiado regresso dos Mount Kimble a Portugal, mas permitiram ver aquele que era um dos nomes mais aguardados da segunda noite: Hercules & Love Affair. Em primeira mão, trouxeram os temas de um álbum que ainda está a chegar, para uma assistência bem composta, numa sala visualmente bonita com as projecções de luzes que eram feitas na parede da velhinha Fábrica.
Foi com o house de George FitzGeral que fechou esta edição, depois de Hunee ter passado pelo mesmo palco.
Não foi possível ver tudo, muito menos do início ao fim, mas esta parece ser a dinâmica ideal para o Lisboa Dance Festival, instalado no local apropriado. O Lx Factory reúne as condições necessárias para este conceito de festival urbano que vai ganhando cada vez mais seguidores.