Se, como já era de prever, a noite de sexta-feira foi mais tranquila, com caminhadas que se ficaram pelo percurso entre o Parque Mayer e o Coliseu dos Recreios, o sábado foi quase sempre feito em passo acelerado, até porque a chuva decidiu aparecer e não deu tréguas.
Não foi possível seguir na integra o roteiro planeado, mas isso não foi impedimento para conhecer novas vozes, novas salas e sair da Avenida da Liberdade com a sensação de que, mais uma vez, valeu a pena.
Por ordem cronológica, estes foram para nós os sete concertos em destaque:
1. Talib Kweli
Para esta edição, Talib Kweli era um dos nomes mais aguardados pelo público e a boa moldura humana presente no Cine-Teatro Capitólio comprovou-o.
O rapper norte-americano correspondeu às expectativas. Mostrou-se dono da palavra, tanto nas rimas que compõem os temas que o acompanharam ao longo dos vinte anos de carreira e que fez questão de apresentá-los em formato best of, como nas mensagens e apelos dirigidos ao público.
Além da japonesa DJ Sarasa, responsável pelos beats e samples que saíam das colunas do Capitólio, Talib Kweli fez-se acompanhar pelo brasileiro Niko Is, que o ajudou a animar parte de um espectáculo onde não faltaram as homenagens a referências como J Dilla, Michael Jackson, Bob Marley ou Wu-Tang Clan.
Perdemos a aguardada "Get By" com que fechou o concerto, mas o que vimos foi suficiente para deixar mais uma vez a certeza de que o hip hop vive um dos pontos mais altos de sempre em Portugal.
2. NAO
Quando chegámos ao Coliseu dos Recreios, já a voz de NAO, que tem tanto de doce como de poderosa, fazia vibrar o público presente na sala.
O funk, a electrónica e o R&B (ou "wonky funk", como ela o descreve o seu género), estavam em perfeita sintonia. E a dança, o jogo de luzes a evidenciar a roupa e o cabelo, aliados à simpatia da cantora, que ia fazendo um esforço para falar em português, foram o complemento perfeito para que este fosse um dos melhores espectáculos desta edição do festival.
Os temas mais conhecidos, como "In the Morning", "Fool to Love" ou "Bad Blood", fizeram parte de um alinhamento que conquistou um Coliseu praticamente cheio.
3. Gallant
Torna-se impossível não fazer comparações. Gallant tem um bocadinho de Maxwell, por vezes soa a Sam Smith, mas depressa apercebemo-nos de que é mesmo ele, num misto de uma voz soberba e uma energia incontrolável.
Perante um Coliseu que foi enchendo com o passar do tempo, bastaram apenas duas músicas para surgir um "wow" em uníssono, como reacção a um dos falsetes do cantor.
Anunciado como uma das promessas do soul / R&B, o cantor americano não acusou minimamente o peso da responsabilidade e montou um espectáculo que, não sendo perfeito (pecou por momentos demasiado longos), andou lá perto e fê-lo, com toda a certeza, ganhar um novo leque de fãs em Portugal.
4. Sara Tavares
Não é fácil de partilhar o tempo com Mallu Magalhães, Elza Soares ou PZ mas, de sorriso aberto e guitarra nas mãos, Sara Tavares esteve em perfeita sintonia com um público que foi perdendo a timidez ao longo do concerto.
Entre os que se levantavam para gingar as ancas e os que se abanavam na cadeira, ninguém ficou indiferente aos ritmos africanos e à voz da cantora.
No regresso a uma sala marcante como o Cinema São Jorge, onde gravou um concerto há oito anos, trouxe de volta êxitos como "Ponto de Luz" ou "Balance" e estreou o mais recente tema "Coisas Bonitas".
Não havia melhor regresso possível.
5. Mayra Andrade
Tinha feito uma reserva para dois, mas apareceu uma multidão capaz de impressionar a própria Mayra Andrade.
Aquela que é uma das vozes do momento, muito por culpa do sucesso do tema em conjunto com Branko e que levou muitos curiosos a quererem conhecer melhor o seu trabalho, encheu o Cine-Teatro Capitólio de versatilidade, com temas cantados em português do Brasil, crioulo ou até mesmo em francês. E fá-lo bem em qualquer um dos registos.
6. Digable Planets
Na noite de sábado, o Cinema São Jorge estava destinado a ser uma sala de regressos. Depois de Sara Tavares, os Digable Planets.
O grupo de hip hop formado em 1992, voltou a juntar-se para uma digressão que contemplava este concerto e houve muita gente que não quis perder a sua passagem por Portugal.
Por trás do trio composto por Butterfly, Ladybug Mecca e Doodlebug, estava uma banda que os complementou na perfeição e não foi preciso esperar muito para ver grande parte do público a levantar-se, em movimento, ao ritmo de batidas e letras que se mantêm intemporais.
7. Branko
Responsável por fechar a 8ª edição do Vodafone Mexefest, Branko apresentou-se entre letras luminosas e ecrãs que foram passando ininterruptamente imagens à volta do Mundo, enquanto um "Atlas" remisturado fazia dançar um Coliseu praticamente lotado.
A viagem começou com "Paris-Marselha" e terminou com Mayra Andrade em palco, para cantar o mais recente single em conjunto, "Reserva Pra Dois".
Um autêntico espectáculo visual dentro de um espectáculo de música. Branko está, definitivamente, noutro patamar e foi a escolha acertada para fechar em grande o festival.
Fotografias: Vodafone Mexefest