Orelha Negra: Levantou-se o véu
No passado sábado, o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém encheu para ouvir aquilo que os Orelha Negra andavam a tramar para o novo álbum.
Uma olhadela à porta e pela sala enquanto as luzes o permitiam, deixou vislumbrar um vasto número de fãs a representar um nicho difícil de identificar. Gente de todas as idades, todos os estilos e todas as classes sociais. A prova viva de que os Orelha Negra conseguiram atingir um leque que vai muito para além da cultura hip hop. Entram em qualquer casa sem preconceito.
De volta ao palco onde já tinham estado para apresentar o álbum anterior, fizeram por corresponder às expectativas e encher as medidas, também, no aspeto visual.
Por trás de um véu, as silhuetas dos cinco elementos do grupo eram projetadas através dos holofotes. Foi assim durante duas faixas, até que, simbolicamente, "levantaram o véu" e mostraram as restantes criações. A partir desse momento e até ao encore, uma perfeita sintonia entre o jogo de luzes e a batida, a transportar o público para cenários, ora mais obscuros, ora a fazerem lembrar o disco dos anos 60, onde não faltaram as bolas de espelhos.
Ao centro, por trás da bateria, Fred dava o mote. À esquerda de quem está de frente para o palco, as duas mesas ocupadas por Sam The Kid e Cruzfader suportavam o MPC e os pratos. À direita, baixo e teclas a cargo de Francisco Rebelo e João Gomes, respetivamente. Juntos e alinhados, não só fisicamente, mas também no que à música diz respeito, com uma química própria daqueles que partilham tantas horas de estúdio.
Durante 1H15, mais coisa menos coisa, percebemos que os samples de Sam The Kid estão lá, o baixo e as teclas estão cada vez mais evidentes e a bateria continua a ter a devida importância. As influências de hip hop, soul, disco, funk e jazz mantêm-se e torna-se cada vez mais reconhecível o "cunho próprio" que nos faz ouvir e pensar: isto é Orelha Negra.
Entre músicas mais calmas e ritmos mais pesados, houve um ar de rock, não faltaram as palavras sampladas, nem experimentalismos improváveis. Deu para tudo, inclusive uma breve passagem pela “Bitch Don’t Kill My Vibe” do Kendrick Lamar e pela "Hotline Blig", do Drake, que arrancaram sorrisos e deliciaram o público.
Uma saída "encenada" fazia adivinhar o regresso para um encore com músicas dos álbuns anteriores. Nem um minuto foi preciso para que começasse a sucessão de três temas já conhecidos e, a avaliar pelas reacções, do agrado de todos. "961919169", "Throwback" e "M.I.R.I.A.M." chegaram para matar as saudades e arrancar uma ovação de pé enquanto que, no palco, abraçados, os cinco músicas agradeciam o feedback.
O tempo passou a correr. Os nomes das faixas mantêm-se no desconhecido, mas fica a certeza de que foram do agrado geral e que, pela cabeça de muitos, já pairava a pergunta: como é que pode encaixar aqui uma letra para uma futura mixtape? Mas calma. Primeiro o álbum, ainda sem lançamento marcado, prevendo-se que possa aparecer para o início da primavera.
Para a memória, fica o dia 16-1-16, com um concerto que surpreendeu pela positiva e correspondeu às expectativas até dos mais optimistas.